Nunca pensei em como me sentiria quando tudo voltasse ao normal.
E, nesse estante, minha realidade era completamente diferente dez meses atrás. Naquela manhã estranha, enquanto minha mãe tentava ser o mais paciente possível comigo, eu não imaginava nada disso. Eu não queria nada. Era apenas para embarcar nessa nova vida – ou tempo intermediário, sei lá – que minha mãe havia me enfiado.
Minhas lembranças não são tão claras assim, mas ainda me lembro de como sofri por sair de casa. Não era realmente rejeição que senti, mas o que eu tinha na cabeça era Vá embora porque você é uma pedra no caminho da sua mãe ou Helena não pode ter uma filha problemática como eu.
Mas nunca, nunca achei que pudesse acontecer tanta coisa em pouco tempo. Não se passou nem um ano. Olhando assim, a vida é engraçada.
Agora eu tenho muitos amigos, tenho um relacionamento bom com a minha mãe, e a cima de qualquer outra coisa que poderia ter acontecido comigo, encontrei alguém que, de certa forma, me deixa doente e me cura, me desconforta e conforta. Que eu amo e odeio.
Talvez no nome disso seja sorte. Ou destino.
Quando fiquei cem por cento curada do meu acidente, as coisas voltaram a se encaixar. Minha mãe voltou para casa e, finalmente, voltei para a George Clark.
Era como se fosse a primeira vez e, ao mesmo tempo, como se fosse só mais um dia. Eu amava aquele lugar, muito. Amava todas aquelas pessoas, mesmo tendo uns casos a parte.
Eu estava em casa.
Andar com Zayn de mãos dadas nos corredores e sentarmos na mesma mesa nas refeições era estranhamente agradável. Ele estava ao meu lado, como eu sempre quis. No tempo em que escondia meu relacionamento com ele, sentia que estava enganando aquelas pessoas, mentindo sobre algo muito importante. Agora com tudo esclarecido, fica muito mais fácil.
O jeito de como ele me trata, o jeito como me olha só me faz ter mais certeza de que ele me ama. E o modo de como me sinto com tudo isso me da a certeza de que eu o amo. Parece simples.
Agora é simples.
Antes não era.
Era sexta e eu completava minha primeira semana em que tudo estava ok. Quer dizer, em que tudo estava no lugar certo. Eu começava a me acostumar com a rotina de ter Zayn ao meu lado na frente de todos. Andar de mãos dadas nos corredores e finalmente poder expor tudo que sentimos.
Ele tinha a sua fama de antes, como um cara boladão que só estava ali porque não aguenta a vida de viagens dos pais. Ninguém nunca entendeu bem o que ele viu em mim e, na verdade, nem eu entendo. Não entendia no começo sua implicância comigo. Seus jogos. Suas atitudes estranhas.
Ele apenas não sabia o que fazer sobre o sentimento que tinha por mim. E nem eu sabia o que fazer com o sentimento que tinha por ele.
E depois de tanta coisa, ele estava comigo.
Como as aulas de sexta feira acabaram mais cedo, já estávamos a caminho da casa dele de Londres. Não teria festa no internato e, mesmo que tivesse, eu não gostaria de ficar em qualquer outro lugar que não fosse com ele.
– Afinal de contas, – Zayn disse, dando uma olhadinha no retrovisor – quem te ensinou a dirigir?
Eu sorri e afundei mais no banco, puxando as mangas do casaco para os dedos.
– O namorado da minha mãe – disse. – Acho que é namorado agora.
– O Caleb?
– Isso.
– Quantas aulas? – ele olhou para mim por um segundo, depois voltou os olhos para a rua.
– Sei lá, talvez duas.
– Duas? – ele olhou para mim e dessa vez ficou mais tempo, porém eu fiz sinal para que ele olhasse para a rua. – Só duas?
– É, duas.
– Você tem noção disso? Tipo, em duas aulas você não aprende nada.
– Mas eu aprendi.
– Deve ser por isso que você dirige tão mal. – ele riu.
– O quê? Por quê?
Ele me olhou de novo, com os olhos arregalados, como se eu fosse maluca.
– Você se meteu em dois acidentes em menos de dois meses.
Bufei. Não me sentia bem quando ele se lembrava do primeiro acidente.
– O primeiro não conta. Não foi minha culpa. E eu tenho certeza que dirijo melhor que você.
Zayn deu uma risadinha.
– Eu tenho carteira, – ele tamborilando os dedos no volante – e você não.
– Mas eu logo tiro. Aqui eu já tenho idade para tirar. – rebati.
Zayn parou de sorrir e fitou a estrada. Eu fiquei esperando sua resposta sacana, mas não veio. Fitei seu rosto, perfeito e intacto. Ele estava com uma tensão, como se tivesse recebido uma notícia ruim. Será que não gostaria se eu dirigisse? Ou pensa que eu posso sofrer mais acidentes do que posso aguentar?
Espantei tudo da cabeça e virei o rosto para a janela.
Quando ele parou na guarita do condomínio, falando com o segurança, eu o olhei de volta. Seu rosto estava o mesmo; com aquela preocupaçãozinha chata piscando para mim. O que será de tão grave aconteceu?
Coloquei minhas penas para cima do banco e as abracei meus joelhos, enquanto ele dirigia pelas ruas do condomínio. Havia quando tempo que eu estive aqui? Sei que foram só alguns meses, mas pareciam anos.
Quando ele parou o carro em frente a casa que eu me recordava ter me assustado com o tamanho, peguei minhas coisas e logo subi as escadinhas da frente, esperando para que ele abrisse a porta. Eu não esperaria que ele ficasse emburrado pelo resto do final de semana, mas se continuasse com essa cara azeda, eu não iria aguentar.
Cruzei meus braços no hall da casa, fitando a placa de MALIK'S HOME e percebendo a nova camada de tinta que havia recebido, esperando que Zayn chegasse logo com as chaves. Mas estava demorando demais.
Quando me virei, ele estava encostado no Land Rover, as mãos enfiadas no bolso da calça.
– Vem cá – ele disse.
– O quê?
– Vem cá – ele disse de novo.
Forcei meus braços sobre o peito, olhando para os lados enquanto descia os pequenos degraus no hall.
– Antes da gente entrar, eu queria falar com você sobre... bem, sobre...
– Você quer congelar aqui fora? – eu perguntei – Pode me dizer qualquer coisa lá dentro, com o aquecedor ligado.
Ele olhou para mim por um estante, com os olhos dourados reluzindo a pouca luz do sol que já nos deixava, antes de tirar a grossa jaqueta e jogar nos meus ombros, meio desajeitado.
– É serio isso? – eu disse, ajeitando a jaqueta. Cheirava o mais perfeito perfume de Zayn. – Eu não estou entendendo nada. Qual é o assunto que as paredes da sua casa não podem ouvir?
Zayn enfiou as mãos novamente nos bolsos.
– Quando você falou em tirar a carteira de motorista aqui, eu me lembrei de algumas coisas...
– Que coisas? – eu rebati rápido. Zayn estava dando voltas intermináveis.
– Você só tem visto de estudante da Inglaterra. Não pode tirar carteira, não pode fazer nada que não seja estudar aqui e, bem, sabe se lá quanto tempo seu visto vai durar. Eu tinha conversado com sua mãe sobre isso, mas ela me disse que até você se formar na George Clark não tem problema. Mas e depois?
Eu fitei o rosto dele, procurando algo de suave, que sempre existiu, mesmo ele estando sério. Mas eu não encontrei nada. O rosto de Zayn estava retorcido em uma careta estranha, enquanto esperava minha resposta.
– C-como assim?
– Quando você terminar seus estudos na George Clark, o que pretende fazer? – ele ainda não tinha tirado as mãos do bolso, estava completamente parado. Não tinha se mexido um centímetro.
– Eu, bem... quero ir para a faculdade.
Eu nunca tinha pensado muito bem que faculdade fazer. Parecia uma coisa muito distante e confusa. No tempo em que eu deveria estar pensando nisso, aconteceu a coisa toda da morte do meu pai, então meio que eu esqueci de todo o sentido da adolescência; programar o futuro perfeito.
– Que faculdade? – Zayn estava me pressionando?
– Eu não sei ainda. – engoli a seco e fechei a jaqueta dele até o pescoço quando um vento frio nos atingiu. Eu estremeci. – Temos uns meses ainda até a formatura e as visitas as faculdades.
– Eu não tenho mais tempo. – ele praticamente sussurrou.
– Como assim não tem mais tempo? – minha voz saiu fraca. Por que eu não estava gostando do rumo que essa conversa estava tomando?
Zayn finalmente se mexeu, tirando as mãos dos bolsos e passando pelo cabelo, jogando para trás a pequena franja que caia em metade da testa, bagunçando ainda mais.
– Eu recebi umas cartas de algumas faculdades para arquitetura e design. – ele mordeu o lábio, como se quisesse não dizer aquilo.
– Ual – foi o que eu consegui dizer.
Nunca pensei com clareza sobre isso, sobre o que iriamos fazer depois de sair da George Clark. Na verdade, eu sempre pensei que não terminaria meus estudos no internato. Eu não planejava ficar mais que seis meses. E de repente, estou nessa situação.
Eu ainda não tinha muita ideia sobre o que seguir na minha carreira. Afinal de contas, eu iria seguir essa carreira pelo resto da vida. Mas seria tão difícil assim para nós? Eu sabia que esse dia iria chegar, só que já estava muito em cima, me pegando desprevenida.
Olhei para Zayn novamente. Ele me encarava, com os braços cruzados e o cabelo bagunçado. Respirei fundo e juntei minhas forças.
– Eu não queria dizer isso agora e acho que estraguei tudo, só que esse assunto vem enchendo minha cabeça há muito, muito tempo e você nem imaginava. Eu fiz uma grande, um enorme merda te contando isso agora. – ele disse rápido demais para meus sentidos o acompanharem.
Zayn chegou perto de mim, tão perto que o frio não existia mais. Era apenas o calor que emanava para mim, me deixando curada de qualquer angustia.
– Não, não fez merda nenhuma.
– Fiz sim, – ele beijou minha testa. – e você vai entender. Vem, vamos entrar.
Ele pegou minha mão e me puxou para o hall da casa. Seus dedos estavam frios, mas a pele parecia se esquentar rápido demais em contato com a minha. Talvez ele estivesse dito que estragou tudo por colocar essas preocupações na minha cabeça. Mas eu precisava saber. Era o meu futuro, que de certa forma, colidia com o dele.
Quando pensei que Zayn iria puxar o bolo de chaves do bolso, ele apenas abriu a porta. Eu iria perguntar por que a porta já estava aberta, mas o coro de SURPRESA! me paralisou.
– Surpresa – Zayn sussurrou no meu ouvido. Eu pude escutar porque o som do mundo pareceu parar e só a voz dele conseguia chegar até mim.
Olhei para ele que, apesar de toda a conversa que tivemos lá fora, sorria. O sorriso mais perfeito que já vi.
A casa dos Malik estava abarrotada de adolescentes da George Clark. Eu ainda estava parada na metade do corredorzinho da entrada para a sala principal, mas já conseguia ver muito mais gente do que gostaria. Havia uma facha gigantesca de BEM-VINDA DE VOLTA, SEUNOME! pendurada em um dos lustres.
– Você achou que depois de quase morrer nós iriamos deixar sua volta passar em branco? – alguém gritou lá do fundo.
Eu ainda estava parada, me agarrando ao braço de Zayn como se ele fosse minha tábua salvadora em um naufrágio. O que toda essa gente estava fazendo?
Como se estivesse passado nem um segundo que eu pus o pé na casa, uma música alta começou a tocar. O chão tremeu e o vidros na janela tremeram com a potencia do som. Quando eu iria me virar para Zayn, vi um rosto muito conhecido na multidão.
Izy carregava um bandeja com bolinhos coloridos. Ela arregalou os olhos e veio até mim, enquanto resmungava:
– Estou sempre atrasada.
Seus braços magros me envolveram em um abraço apertado.
– Bem-vinda de volta.
– Obrigada – eu sorri. – Bela surpresa.
– Cada um ajudou um pouquinho – ela me abraçou de novo – Não ligue se tiver música ruim, Harry é o DJ.
Eu ri e acenei com a cabeça.
Uma penca de gente apareceu do nada para me abraçar, dizendo que estava esperando a festa para me dar ''boas-vindas'' e que seria estranho me parar nos corredores da escola para dizer isso. Eu apenas concordei, sabendo que mais da metade daquelas pessoas estavam ali para finalmente conhecer algo sobre Zayn. Pelo o que eu sabia, ninguém sabia algo sobre a vida dele. E essa foi uma ótima oportunidade.
Quando eu finalmente consegui passar pela sala principal e entrar no segundo ambiente, reparei que também havia pessoas aos montes no jardim lateral. Será que todo o internato estava aqui? E como eles não conseguiram fazer barulho enquanto eu conversava com Zayn no hall da casa?
Eu já estava exausta quando finalmente me sentei em um sofá, com todos os meus amigos de verdade. Zayn estava ao meu lado, segurando minha mão. Liam estava no meu outro lado, seguido por Alex e Niall, depois Emily e Philip. Julia e Izy estavam por ai, já que eram as organizadoras da parada toda.
– Eu não acredito que isso está acontecendo – disse e observei toda aquela gente amontoada pela casa. – Precisava de toda essa gente?
Liam deu risada de mim.
– Esse ai fez questão de dizer para quem quiser vir – ele apontou com a cabeça para Zayn – Fez um bom marketing.
Eu ri apertei a mão de Zayn.
– Claro. Se fosse só por mim ninguém viria mesmo.
Eu disse sarcástica, mas sabia que no fundo era verdade. Ninguém – tirando os meus amigos, claro – sabia da minha existência, e sei que só souberam pelo meu acidente e por ter revelado que tive um caso com Zayn, que agora virou uma coisa séria.
Me arrastei por mais uma hora naquele sofá, fingindo estar gostando daquilo tudo. Eu sei que só os meus melhores amigos estivessem vindo, enquanto comíamos penas pizza com coca-cola, eu estaria muito feliz.
Izy e Julia já haviam voltado, mas às vezes tinham que resolver problemas com o gelo e comida. Eu me perguntava o porquê de tudo isso, serio. Tudo bem, eu quase morri e blá blá blá. Porém metade dessa gente nem falava comigo.
– Onde você vai? – Zayn puxou minha mão assim que levantei do sofá.
Eu não conseguia ver o rosto dele direito, graças as luzes improvisadas que piscavam estranhamente. Eu sabia que, mesmo ele não demonstrando, a aquela angustia sobre o assunto do meu visto na Inglaterra ainda estava nele.
– Banheiro. Já volto.
– Vá nos banheiros de cima, mas não deixe ninguém te seguir. – ele soltou minha mão,
Eu concordei, mesmo não sabendo do que ele estava dizendo. Saí da sala e fui em direção a escada, passando pela multidão. Havia uma fita fluorescente na entrada da escada, com uma plaquinha de NÃO ULTRAPASSE. PERIGO.
Eu ri daquilo e, sem que ninguém percebe, passei por baixo da fita, subindo rapidamente a escada. Tudo parecia ter ficado calmo de repente, apenas com um murmúrio baixo vindo lá de baixo. Eu corri para o único quarto que eu sabia exatamente onde ficava.
O quarto de Zayn parecia intocável, com as paredes abarrotadas de desenhos e pichações. Senti como se o tempo não estivesse passado, como se fosse o dia em que vim aqui pela primeira vez, quando dormimos apertados no sofá lá de baixo.
Fui para o banheiro do quarto, me encarando no espelho que cobria toda a extensão da pia. Eu estava usando meus jeans escuros e um os sueters enormes que minha mãe havia comprado para mim. Eu não estava a pessoa mais atraente do mundo, mas também achava que nem chegava aos pés de Zayn. Na realidade, como a coisa toda aconteceu?
Abri a torneira na água quente e lavei o rosto. Completava quase um ano que minha vida tinha virado de cabeça para baixo. O que será que eu aprendi nisso tudo?
Observei o quarto de Zayn e imaginei quantas noites ele dormiu aqui. Será que passou a infância viajando ou teve uma casa fixa? Me passou pela cabeça quantos quartos ele teria ao redor do mundo.
– Tudo bem ai?
Me virei e encontrei Zayn no meio do quarto. Eu estava perto da janela, observando um grupo de pessoas beberem no jardim.
Idiotas.
– Sim, por quê? – eu respondi,
– Nada. – ele de ombros. Seu cabelo estava bagunçado, caindo pela testa. Estava bonito. – Se você quiser dormir agora...
Eu encolhi os ombros.
– Eu gostaria muito, mas acho que as pessoas...
– Não ligue para as pessoas. – ele chegou perto e colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha – Pode dormir, esqueça as pessoas lá em baixo.
Eu sorri. Olhei seus olhos dourados e depois para o contorno perfeito de sua boca. Talvez fosse sorte minha mesmo ter ele para mim. Meu corpo aqueceu quando ele se curvou e seus lábios ficaram bem próximos aos meus e, de repente, já estavam perfeitamente moldurados aos meus. Me senti quente e anestesiada. Não existiria nada melhor do que a boca dele junto a minha.
– Eu... eu vou lá em baixo pegar sua mochila – ele disse. Sua voz estava baixa, mas ele estava perto demais – Enquanto isso você pode ir tomar um banho.
Concordei com a cabeça, passando meus braços por suas costas até abraça-lo. Meu rosto estava enterrado no seu peito. Eu estava tranquila, sonolenta. Com ele ali tudo parecia calmo e o murmurio da música lá em baixo nem parecia existir.
– Sim, obrigada – eu murmurei. – Depois você pode voltar e aproveitar a festa para...
– Que? – ele me interrompeu. Seus olhos agora pareciam mais brilhantes, perfeitos. – Você acha que eu vou voltar para lá? – Zayn me fitou. Mordi o lábio e, vendo que eu não sabia o que responder, continuou: – Não tem graça sem você.
Minha boca secou.
Tudo bem. Tudo bem.
– Han, então tá. – eu disse. – Só acho que há adolescentes e vodka demais lá em baixo, talvez não dê certo.
Zayn deu de ombros.
– Não ligo pra eles. Nossos amigos sabem controlar tudo aquilo lá. – ele deu uma risadinha. – Nessa casa o mais importante é o andar de cima, por isso ninguém pode subir. As coleções de quadros e esculturas da minha mãe ficam aqui, não poderia deixar adolescentes bêbados tropeçarem em um deles.
Concordei com a cabeça. Fazia sentido.
Meio minuto depois, Zayn já havia saído do quarto. Eu me senti estranhamente sozinha e cansada. Corri para o banheiro, me certificando que havia toalhas antes de entrar no box tamanho GG que era praticamento todo o nosso banheiro no internato. Pendurei sua jaqueta cheirosa no gancho do banheiro, cheirando-a por uns segundos.
Me joguei sobre os jatos quentes de água, sem pensamento algum. Talvez agora eu pudesse relaxar, ou simplesmente passar algumas horas sem pensar em nenhum tipo de problema. Quando desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, observei o banheiro e minha mochila estava em cima do balcão da pia.
Me vesti com meus moletons e finalmente me senti confortável. A cicatriz da minha cirurgia estava quase sumindo; apenas um rastro estranho pela costela. Eu ainda tomava um remédio para meu corpo aceitar o pino que foi colocado, mas fora isso eu estava cem por cento.
O quarto de Zayn estava vazio e o zumbido lá de baixo continuava o mesmo. Eu andei até a prateleira e notei que não havia muitos objetos dele lá e, imediatamente, me toquei que ele nunca fica muito tempo aqui. Não tinha como ser a casa dele, porque havia muitas outras.
– Que foi? – ouvi a voz dele.
Zayn estava de volta no quarto, carregando um prato na mão.
– Nada.
– Toma – ele me entregou o prato – Peguei comida para você.
Havia salgadinhos, biscoito e um cupcake, arrumados do melhor jeito que ele conseguiu.
– Obrigada – disse e fui até a cama, me sentando na ponta, dobrando as pernas – Tudo sobre controle lá em baixo?
Ele deu de ombros.
– A mesma coisa.
Zayn sentou no outro lado da cama, me observando.
– Você acha que a festa foi demais? Quero dizer, desnecessária?
Eu estava com a boca cheia, mas engoli rápido para responder.
– Não, claro que não. – me virei para ele. Seu rosto estava sereno, iluminado pela luz do quarto. – Isso foi incrível. Tudo bem que a maioria das pessoas lá em baixo não estão nem ai, mas mostrou que vocês, meus amigos de verdade, se importam. Ter amigos é maravilhoso.
Ele sorriu e eu sorri junto. Não havia nada de melhor do que o sorriso dele.
– É que eu achei...
– Não e não. Vindo de vocês uma coisa assim nunca é demais. Eu amo isso. – eu disse, e ele sorriu com ternura – Talvez eu esteja cansada demais para ficar até o final, mas isso não quer dizer que não gostei.
Eu sorri, porque estava falando a verdade mais linda sobre os meus amigos. Eu os amava, demais. Passei muito tempo na minha vida sem amigos, existia Lindsay e Jack, mas eles já eram em um nível que parecíamos irmãos. E ter amigos como aqueles era um presente que eu jamais encontraria um jeito de agradecer.
– Que bom que se sente assim. – Zayn sorriu.
Meio segundo depois, ele estava me abraçando. O calor de seus braços em volta de mim me deixava feliz instantaneamente.
– Deveríamos conversar – a voz dele estava perto do meu ouvido, tão serena que poderia me ninar – Sobre todos os assuntos.
Me dei a liberdade de ficar uns segundos pensando sobre aceitar essa proposta. Nós tínhamos muito o que conversar, mas eu estava me sentindo muito bem para começar a pensar sobre problemas. Eu só queria ficar com ele, não importando mais nada. Mas a vida não era fácil assim.
– É – eu disse, mesmo contra minha vontade – Deveríamos conversar.
Zayn tirou os braços em torno de mim bem devagar e depois encostou as costas na cabeceira na cama. Seu cabelo caia sobre a testa, mas ele os puxou para cima com os dedos, deixando-o desgrenhado.
– Primeiro – ele tossiu, endireitando os ombros, – preciso saber exatamente o que você quer fazer da sua vida. Tenho que tomar decisões e tenho certeza que qualquer que for a sua, eu irei aceitar.
Observei seus olhos dourados brilharem. Ele estava me encarando tão profundamente que tudo o que dizia eu sabia que era verdade e, a cima de tudo, amor.
– Qual tipo de decisão?
– Faculdades.
Eu engoli a seco.
– Eu não me escrevi para nenhuma ainda. – fiz uma careta – Achei que teria mais tempo... ou achava que nem iria fazer uma. Minha mãe sempre fez questão, mas eu achava que não tinha tanta importância.
Zayn me ouviu pacientemente, seus olhos transbordando ternura.
– E agora tem importância? – ele perguntou.
– Tem... eu até pensei em uns cursos.
– Quais? – Zayn sorriu.
– História – disse e encostei na cabeceira também. – Eu gosto de história.
– É um bom curso.
Eu concordei o fitei o quarto em silencio. A batida da musica soava como um zumbido estranho, entrando pela fresta da janela. Eu não sabia até quando a festa duraria, mas desde que não desse problema, tudo bem.
– Quando você recebeu suas primeiras cartas para as faculdades? – perguntei.
Zayn levantou da cama e apagou a luz do quarto, acendendo um abajur. Me permiti deitar e cobrir as penas com a coberta. A roupa de cama tinha o mesmo cheiro do cabelo dele. Era incrivelmente perfeito.
– Han, bem... – ele ajeitou um travesseiro e deitou ao meu lado. Ele encarava o teto. E eu o encarava – Uns dias depois de você voltar para casa. Recomeçar lá, sabe?
Havia tanto tempo assim? Fazia quase três meses de quando voltei para casa. Ele guardou isso por tanto tempo?
– Sei – respondi. Meus lábios tremeram em pensar dele recebendo as noticias – Você recebeu propostas rápidas das faculdades.
Zayn deu de ombros.
– Meu pai me escreveu adiantado em todas. Digamos que ele sempre mecha os pauzinhos para facilitar.
Soltei uma risadinha, mesmo não achando graça. Era claro que o pai dele
mexia os pauzinhos. As mãos de Zayn passaram pelos meu braço, enroscando-me nele ainda mais na cama. Seu cheiro estava forte e me deixava fraca.
– Ele quer o seu bem – disse e me ajeitei em seus braços. – Acho que por isso ele te colocou de volta na Georgle Clark.
Zayn soltou um riso estranho. Seus braços me apetaram mais e, antes de começar a falar, ele respirou fundo.
– Ele não me colocou diretamente – ele disse – Eu fui expulso, mas ele aceitou qualquer coisa para me colocarem lá de volta.
Mordi o lábio.
– Seu pai ficou muito furioso? – perguntei. Tinha medo do que ele poderia responder.
Zayn encarou o teto do quarto. Ele fez silencio por uns segundos e então eu consegui escutar de volta aquela batida da musica lá de baixo.
– Acho que não ficou furioso. – enfim ele respondeu com sinceridade – Para ele não foi problema, para mim, sim.
– Por que voltar para o internato foi um problema? – perguntei e logo depois me arrependi. Se ele quis sair algum momento, foi por minha causa.
– Não tinha mais graça aquilo lá – ele respondeu. Senti as pontas dos meu dedos ficarem frias de repente. – Você não estava lá e eu não queria mais continuar. Não havia motivo.
Respirei fundo, apertando o tecido da blusa dele. Eu não tinha nada para falar, estava tudo tão embolado na minha cabeça que o máximo que eu poderia fazer agora era chorar. Chorar porque ele sofreu, sofreu por mim. E eu sofri por ele.
– E aquele jeito foi a mais sensato de querer sair? – minha voz não passou de um sussurro estranho. – Ficando bêbado?
Zayn se remexeu e, por incrível que pareça, soltou um risinho.
– É, não foi o mais sensato, mas eu estava sem ideias. – ele deu uma pausa. Talvez estivesse sorrindo, mas eu não conseguia ver direito – E eu não estava bêbado de verdade.
Hein?
Todo mundo me contou a mesma história; Zayn bebeu e ficou maluco indo na sala de Madalena com uma garrafa de sei lá o que na mão. E agora ele estava desmentindo tudo? Levantei meu tronco e me apoiei nos cotovelos para poder ver seu rosto.
– Não estava bêbado de verdade, é?
Zayn balançou a cabeça, rindo deliciosamente.
– Não.
– Então o que...
– Eu não queria ficar bêbado, só queria sair dali. – agora ele ficou sério, olhando para mim – Comprei uma garrafa de whisky, joguei metade na pia e fui encarar Madalena.
O que?
Zayn estava sóbrio quando armou essa cena?
– Você é maluco – eu disse.
Ele deu de ombros.
– Mas não adiantou nada. Eu fiquei a noite inteira ouvindo um empregado do meu pai falar no telefone e, depois de tudo, me mandar de volta para o internato.
Eu fiquei em silencio, absorvendo toda aquela informação. Zayn tinha marmado muita coisa, trabalhando em uma mente estranha. Me perguntei como ele deveria ter ficado quando fui embora.
– Mas não voltou tudo ao normal, você nem na nossa turma está mais – eu o lembrei.
– Isso agora é um problema, mas naquela época para mim não tinha diferença. Ficar bêbado ou não, não tinha diferença. Continuar na mesma turma ou não, não tinha diferença. Eu estava apenas sobrevivendo.
Sobrevivendo.
Era exatamente o que eu estava fazendo na minha casa. Quando voltei, o que eu fiz foi sobreviver. Sobreviver e sobreviver. Duas pessoas podem mesmo sentir a mesma coisa?
– Sobrevivendo – eu murmurei.
Senti vontade de chorar, vontade de apagar tudo aquilo da memória dele. Queria que tudo fosse diferente, que nada tivesse acontecido.
– Mas agora as coisas estão melhores – ele disse e depois respirou fundo, como se estivesse aliviado – Você está aqui.
Ele passou os braços em volta de mim, me apertando contra seu corpo. Eu sentia o color de seu corpo junto ao meu. Quis beija-lo.
– Sim, estou – disse. Meu rosto estava contra sua blusa e eu sentia seu cheiro gostoso. Reorganizei meus pensamentos e respirei fundo – Então você não estava bêbado e só fez isso para ser expulso?
– Sim – ele confirmou.
Eu ri e apertei o tecido de sua blusa entre meus dedos. Zayn queria mesmo sair do internato de qualquer jeito? Tudo por minha causa?
– Mas quando você foi no meu dormitório você estava bêbado, mas bêbado de verdade. – disse e senti um sorriso se formando nos lábios dele.
– Eu estava mesmo. – ele riu, como se fosse algo muito engraçado. Naquela época eu não achava nada engraçado. – Mas era diferente...
E então, num movimento rápido demais, o corpo dele já estava sobre o meu. Suas mãos passaram pela minha coxa, subindo bem devagar, parando na minha cintura. Eu prendi a respiração, sentindo meu corpo corresponder a ele. Seu rosto ficou a centímetros do meu, tão perto que eu conseguia sentir seu hálito.
– Era diferente porque eu estava muito, muito puto com você – Zayn sussurrou, com seus lábios quase juntos aos meus. Fechei meus dedos no tecido da sua blusa, sentindo meus músculos tencionarem – Eu tinha credito pra fazer o que eu quisesse, não tinha?
Eu estava tentando processar o que ele estava falando, porque seu corpo sobre o meu não me deixava pensar direito. O calor de suas palavras me deixava tonta e eu queria beija-lo.
– Não... não tinha. Você não podia fazer o que você quisesse. – eu soltei como um murmuro, mordendo meu lábio e empurrando minha cabeça contra do travesseiro, para ver seus olhos – E ainda vomitou no meu banheiro.
Zayn soltou o ar pelo nariz, rindo. Seu riso foi tão gostoso que tive vontade de rir com ele.
– Você mereceu – ele disse.
Me remexi embaixo do seu corpo. Eu não gostava de quanto ele lembrava do tempo que ficamos separados. Odiando um ao outro.
– Tudo bem – falei.
Ele continuou olhando para mim, os olhos brilhando no escuro.
– Eu sentia sua falta – ele disse rápido. – Sentia muito a sua falta e, quando você voltou, foi pior ainda. Eu só queria desaparecer. Você... tinha voltado e eu não sabia o que fazer, e então eu bebi.
Fiquei observando seus lábios entreabertos. O jeito como ele disse que sentia a minha falta era estranhamente bom e ruim. Bom porque ele me queria por perto, e ruim porque ele sofreu.
– Eu quero beijar você – eu sussurrei.
Zayn soltou um sorrisinho e baixou o rosto, chegando perto do meu novamente.
– Então me beije, por favor – pediu.
E então eu o beijei. Seus lábios quentes e macios contornaram os meus, bem devagar. Ele apertava minhas coxas, mantendo meu corpo contra o dele. Não existia nada. Só ele. E eu o amava. Se nossa historia acabasse aqui e agora, teria valido a pena. Desdo inicio.
Meus dedos passaram de sua nuca até o final das costas. Sua pele era macia e meus dedos pinicavam em contado com ele. Talvez fossemos perfeitos um para o outro. Talvez até ele fosse perfeito demais para mim. Nunca poderia saber.
Eu o senti suspirar quando comecei a tirar sua blusa.
CONTINUA....
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OI GENTE BONITA
NOA ME MATEM POR FAVOR
obs: se alguém ainda acompanha CMM, se você ainda está vivo e não quer meus nervos fritos, obrigada.
Esse era para ser o ultimo capitulo mas eu só tenho isso escrito e se eu fosse escrever tudo em um capitulo só iria ser uma bíblia e só iria ser postado em dezembro.
Então fiquem como esse capitulo chato. Falem a verdade, tá chato, né.
Eu sempre coloco um texto falando sobre os problemas que eu enfrento para escrever a fanfic, mas agora eu só direi as palavras chaves.
CTUR. FÍSICA. OLERICULTURA. QUIMICA. RECUPERAÇÃO. PC RUIM. TO MUITO FODIDA.
É isso gente. Espero que ainda me amem.
AAAAHAHHH JÁ IA ESQUECENDO.
QUEM VIU A NOVA FANFIC DO BLOG?????
THE DARK SIDE TÁ CHEGANDO PARA ABALAR.
E não esqueçam de CONDUTORES, eu ainda vou escreve-la.
GENTE EU AMO VOCÊS DEMAIS OBRIGADAAAA OPWDSKOWPJD TO PASSANDO MAL AQUI
comenta ae pvf sei lá se achar uma merda comenta tbm brigada veleu to indo e essa nota ficou enorme bj
larry is real